Festa de São Roque convida à ação
- PASCOM
- 21 de ago.
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Atualizado: 21 de ago.
Logo cedo, o sino anunciava: está oficialmente aberta a Festa de São Roque de 2025. Marcado por uma intensa movimentação de fieis no santuário localizado no bairro da Federação, o dia da Festa de São Roque, 16 de agosto, reuniu centenas de pessoas que professam a fé católica e também de matriz africana, desde às 5h, horário da tradicional alvorada.

Devotos, turistas, paroquianos e admiradores da história do santo visitaram o Santuário de São Lázaro e São Roque para agradecer por graças alcançadas e suplicar a Deus por novas bênçãos.
Lá chegando, eles foram convidados a imitar São Roque naquilo que traduz a vida desse grande discípulo de Cristo: a solidariedade. Em todas as Missas, realizadas às 5h30, 7h, 9h, 11h e 15h, os sacerdotes compararam São Roque ao “Bom Samaritano” por sua vida refletir, de maneira concreta, a parábola contada por Jesus (cf. Lc 10,25-37).
A trajetória de São Roque começou a ser lembrada, porém, no tríduo preparatório, realizado nas três segundas-feiras que antecederam o dia da festa: 28 de julho; 4 e 11 de agosto. Nestes dias, as Santas Missas realizadas às 9h contaram com abordagens especiais, realizadas pelos presidentes das três celebrações.

No primeiro dia do tríduo, 28 de julho, o novo Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Salvador, Monsenhor Gabriel dos Santos Filho, falou sobre o tema "São Roque, foste peregrino por onde passaste".
O segundo dia do tríduo, 4 de agosto, contou com a reflexão de Frei Narciso Dias Santos, que abordou o tema "São Roque deixou tudo para ajudar os irmãos".
A Santa Missa presidida pelo padre Clóvis Cabral encerrou o tríduo no dia 11 de agosto, falando sobre o tema: "São Roque: jovem que seguiu o Cristo".
Da esquerda para a direita: monsenhor Gabriel, Frei Narciso e padre Clóvis ajudaram nas reflexões do tríduo preparatório
Assim como aqueles escolhidos para o tríduo, o tema da festa de 2025, “São Roque, testemunho da graça e da esperança", mostra o compromisso do santo com a causa do Evangelho de Jesus. Sem se deixar levar por preconceitos, ele ajudou ao seu próximo nas suas necessidades e esse auxílio continua sendo buscado por todos que acreditam na sua poderosa intercessão.
Uma dessas pessoas é Elenice Alves, que levou a cadela chamada Princesa, por quem nutre um profundo amor. Emocionada, ela pediu pela saúde do animal, que se encontra em estágio avançado de uma comorbidade que preocupa a tutora. “Prefiro pedir a intercessão de São Roque. Não sei mais o que fazer. Só Deus mesmo", disse ela com lágrimas nos olhos.
Da esquerda para a direita: Elenice, Lourival e Luísa, Einandeyara e as filhas, Einandressa e Einauane, foram ao Santuário com diferentes motivações
Essa confiança faz com que muitos retornem ao santuário para agradecer, como fizeram os irmãos Lourival Júnior e Luísa Carvalho. Frequentadores assíduos da Festa de São Roque, eles retornaram este ano por um grande motivo. "Eu, em especial, agradeço pela minha gravidez, pela minha filha. Depois de duas perdas, veio meu bebê", explicou Luíza. Além de pedir pela saúde de toda a família, Lourival também foi agradecer pela vinda da sobrinha e afilhada. “Ela veio pra dar uma renovação pra gente", frisou ele. Os dois herdaram a devoção dos pais, que os levavam para o santuário quando ainda eram crianças.
Existem ainda pessoas que vão conhecer o lugar sagrado, como fez Einandeyara, que levou as filhas Einandressa e a pequena Einauane para apresentá-las a São Roque. "Estou achando maravilhoso, esplêndido, não conhecia", disse a mãe. "Estou, sem palavras. Muito feliz", exclamou.

Outra que estava contente com a ida à festa foi Raivalda Pitanga, que segurava com todo cuidado uma antiga imagem que pertenceu ao seu trisavô. "É uma relíquia! As promessas que nós fazemos, nós alcançamos. E aí eu venho todos os anos para agradecer", explicou.

Raivalda guarda relíquia de família que pertenceu ao seu triavô
E foi dessa forma, acolhendo as diferentes pessoas, que os presidentes das celebrações puderam falar do exemplo de São Roque para nossas vidas. Padre Casimiro Malolepszy, missionário redentorista e pároco da Paróquia da Ressurreição do Senhor, da qual o santuário faz parte, abriu a programação do dia festivo convidando os fiéis a agirem como São Roque, durante a Missa realizada às 5h30.
“A fé não é só um sentimento. A comunhão com Deus é a graça de Deus que chega para nós e essa mesma graça é partilhada com o povo e os mais necessitados, principalmente, em nome da caridade, em nome do amor a Deus e ao próximo, em nome da esperança que o Evangelho nos manda levar", lembrou.

Jesus Cristo conta a história do samaritano; São Roque torna-se bom samaritano e Antônio, Maria, José e por aí vai… Tornam-se discípulos de São Roque e, assim como ele, nos tempos de hoje, levam os gestos e as atitudes concretas nos seus ambientes, nos seus bairros, nas suas comunidades, onde tem os necessitados”, afirmou.
A Santa Eucaristia realizada às 7h foi presidida pelo padre Maciel Pinheiro, Superior da Comunidade Redentorista de São Lázaro, que ressaltou a importância do diálogo inter-religioso.
“Uma fé fechada em si mesma não nos leva ao encontro de Deus e, sem dúvida alguma, não nos leva ao encontro das necessidades dos nossos irmãos. Uma fé aberta nos leva ao encontro de Deus e, consequentemente, ao encontro dos nossos irmãos, especialmente aqueles que professam a fé em outras denominações", ressaltou.

"Aqui é o espaço da acolhida de todos, em que todos vivenciam e fazem a experiência de Deus. E ao mesmo tempo, ao nos encontrarmos nesta diversidade, nós não nos sentimos ameaçados em nossa própria fé. Mas, neste diálogo inter-religioso, nós entendemos o alcance da mensagem manifestada na pessoa de Jesus, conforme Roque entendeu e acolheu e ajudou todos da sua época, independente de religião”, justificou o sacerdote.
Às 9h essa diversidade ganhou destaque na Missa Afro, presidida por Dom Zanoni Demettino Castro, Arcebispo de Feira de Santana, e concelebrada por frei Athaylton Jorge, frei Jorge Geraldo, padre Clóvis Cabral, padre Antônio Oliveira e padre Maciel. Quem acompanhou tudo com muita atenção foi Maria José dos Santos, que participa da Missa Afro no Rio de Janeiro.

Maria José atua na Pastoral Afro
Acompanhando o frei Athaylton em missão, mesmo sendo baiana ela foi pela primeira vez à Missa Afro do santuário. "Pra mim é maravilhoso", revelou. Para frei Athaylton, autor do livro "Nosso Jeito de Celebrar", a Festa de São Roque propiciou um reencontro. "É um santo muito importante pra nossa vida", ressaltou.
Frei Jorge Geraldo gostou da participação das pessoas. "Viver essa fé juntos... A sinodalidade dos irmãos de terreiro e tudo mais. Deus é um só", lembrou.
Outro que ressaltou a diversidade foi padre Clóvis. "Esse santuário, dedicado a São Roque e São Lázaro, pode contribuir para que a Arquidiocese de São Salvador possa ajudar o Brasil a cada vez mais responder às exigências atuais de uma evangelização inculturada, que dialogue. Esse é um imperativo contemporâneo. Que nós possamos, portanto, crentes de tantas fés, nos reunirmos em torno do amor", pontuou.

O livro foi apresentado pelo autor
Com o marco de quase 50 anos de sacerdócio, padre Antônio ressaltou a felicidade de viver em Salvador. "Para mim foi muito importante viver na Bahia, com toda essa cultura. Eu quis viver aqui em Salvador como Jesus viveu em Nazaré: convivendo e anunciando o Evangelho a partir da vida, do dia a dia", justificou.
Após conduzir um momento de silêncio orante com os fiéis, Dom Zanoni se integrou à procissão de entrada para dar início à celebração que deixou a igreja quase sem espaço livre, diante da quantidade de pessoas presentes.

Da esquerda para a direita: frei Jorge, padre Clóvis, padre Antônio, Dom Zanoni, frei Athaylton e padre Maciel
Ritmada e com um conceito próprio, a Santa Missa foi lugar de pregação participativa, numa homilia que destacou a necessidade da tradução da fé em gestos concretos de amor, justiça e equidade.
“São Roque nos força a isso. Sua oração não era separada do serviço aos doentes. Sua ação não era separada do serviço aos pobres e excluídos. Ele uniu ou não uniu a sua fé às obras, à oração e à caridade?”, perguntou.
Essa visão foi reforçada na Santa Missa das 11h, presidida pelo padre Adão Mazur, redentorista responsável pelas Santas Missões Populares na Bahia.
“Ele (São Roque) colocou na prática aquilo que Jesus, no Evangelho, ensina e que os apóstolos deixaram nas cartas: ‘a fé sem as obras é morta’, assegurou.

"Participando hoje, dessa Eucaristia, queremos pedir pra que realmente sejamos discípulos e peregrinos da esperança, seguindo o testamento de Jesus e os passos de nosso padroeiro, São Roque”, concluiu.
À tarde, o santuário continuou cheio de pessoas, dessa vez para a Missa Solene presidida pelo Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Salvador, Dom Marco Eugênio e concelebrada pelos padres Casimiro e Maciel. O acólito Caian Gonçalves, presente no santuário desde o início do dia festivo, auxiliou na Santa Eucaristia.
"A fé é uma experiência concreta de vida que se expressa nas obras que fazemos… Eu tenho que sair de mim para ir ao encontro do outro, para ir até aos que estão necessitados, frisou o bispo.

São Roque abandona tudo, apenas para colocar-se a serviço de Nosso Senhor. Foi identificado como miserável, foi identificado como bandido porque estava ajudando necessitados. Mas nunca perdeu a certeza de estar servindo ao Senhor”, ressaltou el.e
A celebração contou ainda com uma agradável surpresa: a “presença de São Roque” na pessoa de Nelson Filho que, vestido como o santo, participou da Santa Missa em meio aos fiéis.
Após a Santa Missa, a procissão com o andor de São Roque saiu do santuário em direção ao largo do Campo Santo, onde retornou para o caminho que conduz à antiga igreja.

O cortejo foi acompanhado por grupos que prestaram homenagens musicais e animaram os fiéis com suas apresentações. Após a procissão, a Bênção do Santíssimo encerrou a programação oficial da festa, com os agradecimentos de padre Casimiro.

Quem foi ao Santuário de São Lázaro e São Roque no dia seguinte (17), pode contar ainda com uma Missa extra durante a manhã, permitindo que os fiéis que não puderam comparecer no sábado vissem o andor, que permaneceu ao lado do altar.
Independentemente do dia, todos foram chamados a pensar em São Roque como alguém que encarnou a compaixão de Cristo no serviço ao próximo, tornando-se um verdadeiro exemplo do que Jesus ensina: “Vai e faze tu o mesmo” (Lc 10,37).
Silvana Lima (Pascom), com a colaboração da Equipe do Santuário de São Lázaro e São Roque.

























































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