"A Bíblia nasce do povo e é para o povo"
- PASCOM
- 15 de jun. de 2023
- 3 min de leitura
O mês de setembro é reservado na Igreja Católica como o mês da Bíblia. Nas igrejas protestantes se celebra a Bíblia no segundo domingo de dezembro. Esta tradição vem de longa data e tem como objetivo estudar o livro destas escrituras milenares. Portanto, neste ano de 2023 o livro escolhido para estudo é a carta paulina aos Efésios, contendo 6 capítulos.

A leitura da Bíblia e o estudo destes escritos é muito importante para todas e todos. Não é algo reservado aos especialistas. A Bíblia nasce do povo e é para o povo, para as comunidades, para todas as pessoas. Nela encontramos relatos de experiências de vida de pessoas comuns, de governanças; de guerras e muitas mortes; de sofrimentos vivenciados por muitas pessoas e grupos; de profecias; de muita poesia e orações; e de palavras de esperança e força. Enfim, são relatos os mais diversos possíveis, tanto de experiências quanto de estilos de linguagem. Este livro (biblos, em grego) é uma das coleções mais democráticas da literatura. Tem muitos pontos de vista, contradições, debates, defesa de vários projetos de existência, etc. Por essa diversidade e complexidade, precisamos estudar coletivamente para compreender os contextos, o chão de onde brotaram estas palavras. Não caíram do céu não! Brotaram do chão da história de vários povos e grupos que contam sua experiência histórica à luz da espiritualidade com Deus, com Jesus Cristo.
As escrituras judaico-cristãs (Bíblia) não se resumem a um livro de história e nem tampouco se resumem a um tratado dogmático. Precisam ser compreendidas dentro de vários contextos e épocas. Estamos diante de escritos cuja distância geográfica e temporal nos separa há milênios e milhares de kilômetros. Estamos separados geograficamente, culturalmente e temporalmente. Por isso, precisamos ter conhecimento de história, geografia e situação sócio-cultural para chegar mais perto possível do que estes relatos significaram para aquele povo, aquela comunidade, para estes grupos daquela época. Não podemos aplicar as palavras numa linha direta e aplicá-las ao século 21, numa terra e sociedade muito diferentes da sociedade israelita e das primeiras comunidades cristãs de outros tempos. Necessitamos de "chaves de leitura" para abrir as portas de tanta relíquia maravilhosa e interessante.
Sem dúvida, estas escrituras têm uma riqueza e surpresas que podem iluminar nosso caminhar comunitário e pessoal. Elas podem nos orientar e ajudar na busca de uma existência mais próxima à Deus e, portanto, mais integrada à todas as criaturas e criação, a uma vida mais plena de sentidos. Nela temos valores que orientaram gerações e povos, como a misericórdia, a justiça, amor ao próximo, cuidado com a criação, partilha do pão, acolhimento e cuidado, defesa dos mais vulneráveis na sociedade e tantos outros valores para que a VIDA seja o princípio e o fim da nossa travessia neste planeta Terra.
Neste ano, temos o desafio de compreender a carta que o apóstolo Paulo escreveu para muitas comunidades e também para Éfeso. Conforme nosso querido mestre Frei Carlos Mesters e Francisco Orofino, "A carta aos Efésios é um escrito curioso. (...) Apesar de sua forma característica de uma carta, o escrito mais parece uma homilia ou um sermão solene e festivo (...) a carta destina-se a todas as comunidades cristãs da Ásia, as mesmas para as quais estava destinado o livro do Apocalipse”. Esta carta é datada aproximadamente no ano de 85 d.C., muito tempo depois da morte de Paulo (entre 64 e 67 em Roma sob o imperador Nero). Éfeso fica localizada na Ásia Menor, esta comunidade que lá se formou era uma das mais importantes desta região. Priscila e Áquila (Atos 18,19-21) fundaram esta comunidade e Paulo ficou trabalhando nesta cidade por mais de dois anos, por ter esta cidade um papel estratégico na Ásia Menor, de onde se irradiava o trabalho missionário.
A importância e a beleza de estudarmos coletivamente os escritos, desta tradição milenar e tão respeitada pela maioria do povo brasileiro, é justamente para não cair na vala comum e no senso comum de "usar" a Bíblia como escudo para defesa de ideias e projetos individualistas e egoístas de má-fé. Esta prática de aplicar a Palavra de Deus equivocadamente é o que denomina-se de "Fundamentalismo", ou seja, o uso destas escrituras de forma descontextualizada e dogmatizada. Isso é um perigo que nos ronda atualmente e somente o estudo sério desta Palavra pode nos livrar de doutrinações e descaminhos da fé.
Vamos partilhar nosso tempo e nosso desejo de conhecimento, neste mês de setembro, para compreender o que acontecia na comunidade de Éfeso. Podemos ser iluminados/as para nossa vida em comunidade eclesial e nossa vida pessoal. Também teremos oportunidade de no aperfeiçoamento e como nos admoesta o apóstolo nesta carta: "Não andeis mais como andam os demais gentios, na futilidade dos seus pensamentos, com entendimento entenebrecido, alienados da vida de Deus pela sua ignorância e pela dureza dos seus corações." (Ef 4,17-18).
Carlos Roberto Sarmento Barbosa (Catequista de Jovens e Adultos)
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