Que humanidade é essa? (Mutirão, parte 1)
- PASCOM
- 5 de set. de 2023
- 5 min de leitura
Atualizado: 6 de set. de 2023
Foi o que quiseram saber as mais de cem pessoas que participaram do Curso Bíblico realizado na Paróquia de Ondina, no último final de semana (2 e 3). A pergunta diz respeito ao lema escolhido para o Mês da Bíblia em 2023: “Vestir-se de uma nova humanidade”.
O evento
Essa inspiração, retirada da Carta aos Efésios, serviu de base para o estudo realizado por representantes das Paróquias da Ressurreição do Senhor; de Santa Cruz; de Santo André; de São João Batista; de São José de Amaralina; do Divino Espírito Santo e do Cristo Redentor.

O objetivo
Além do estudo da Carta aos Efésios, os participantes de sete paróquias da Fornaia 2B se uniram para discutir a melhor forma de propagar os círculos bíblicos nas suas comunidades.
Nos dois dias de atividades, eles expandiram seus conhecimentos com informações e curiosidades a respeito da Carta, dentre as quais a sua autoria, normalmente atribuída a Paulo.
Para questionar essa hipótese, a mestre em Bíblia, Haidi Jarchel, realizou uma ampla reflexão, apontando indícios históricos que levam a acreditar em outra possibilidade: a da Carta ter sido escrita pelos seguidores do apóstolo. Entre outros fatos, o momento no qual a produção aconteceu, as expressões utilizadas e o estilo da linguagem levam a este entendimento.
A abertura foi marcada por alegria e simbolismo
A abertura
Antes, porém, do estudo ser iniciado, o pároco, padre Casimiro Malolepszy, acolheu os representantes das paróquias, agradecendo ao padre Maciel Pinheiro e à equipe que organizou o evento.
“Desejo que o mutirão seja frutuoso e que os participantes possam ser multiplicadores da Palavra de Deus, o que nos mês de setembro é muito significativo”, disse ele.
A Carta
Após a abertura, realizada em clima de louvor e alegria, Haidi aprofundou o estudo, começando pela realidade geográfica e cultural da cidade de Éfeso, localizada na costa ocidental da Ásia Menor. Hoje, a cidade pertence à Turquia, mas na época de Paulo Éfeso representava um local estrategicamente favorável à irradiação do Evangelho na região. E mesmo enfrentando dificuldades locais, Paulo evangelizou na cidade, de onde escreveu as cartas aos colossenses, aos gálatas, parte aos filipenses e também a Corinto e a Filemon.

Haidi usou slides para mostrar detalhes da Carta aos Efésios
A estrutura da Carta aos Efésios também teve destaque, com considerações sobre cada uma das suas partes: a que vai de Ef 1,3 até 3,21, com uma estrutura mais litúrgico-teológica; a que corresponde ao trecho 4,1 até 6,9, contendo orientações mais práticas
para as comunidades e, por fim, o seu encerramento (Ef 6,10-24), onde destaque-se, entre outras reflexões, a importância da oração.
Por meio da Carta e do contexto no qual ela foi escrita, Haidi falou sobre a organização das comunidades e como esta contribuiu para a criação da Igreja, tendo, na conversão de Paulo, o reconhecimento do caminho da salvação em Cristo Jesus, que chama a todos para serem um único e mesmo povo diante de Deus, agindo com prudência e respeito uns com os outros. Nesse sentido, Haidi explicou que devemos fugir do fundamentalismo através do estudo da Palavra. “A língua é uma arma poderosa e a gente precisa cuidar. Quando a gente equilibra conhecimento com amorosidade a gente se torna uma pessoa sábia”, justificou.
Ela destacou alguns pontos da Carta
Outro ponto interessante, trazido por esse trecho da Bíblia, é a certeza de que a salvação se dá pela fé em Jesus, que pede transformações daqueles que se põem a segui-lO. “Cada pessoa deve vencer dentro de si o ‘ser humano velho’ para assumir uma vida nova em Cristo”, ressaltou a palestrante, que fez questão de frisar o fato de todas e todos serem chamados a participar da mesma herança, antes reservada aos descendentes de Abraão, sendo aberta à humanidade por Jesus Cristo. “É pela fé em Jesus que nos salvamos. Não preciso cumprir regras. Jesus já me ofereceu a salvação. Somos acolhidos por Jesus do jeito que somos!”, afirmou.
Com o apoio da teóloga Cecília Franco, Haidi citou exemplos que demonstram o quanto ainda estamos distante do que Jesus sugeriu, ao deixar o seu próprio comportamento como exemplo. Ela frisou a importância da vivência cristã nas pequenas atitudes que tomamos diariamente. Para tanto, deixou uma pergunta: “Como é o meu viver cotidiano conforme a proposta de Jesus?”
Os trabalhos
Após a explanação inicial, com intervalo para café e almoço, o grupo foi dividido em mini plenárias para discussão dos temas propostos.
Ao retornarem à plenária geral, as equipes compartilharam o resultado dos trabalhos, ouvindo novas considerações sobre a melhor maneira de realizarmos a evangelização, para a qual podemos empregar os dons e talentos que recebemos do Senhor.
Independentemente do que cada um carrega consigo, porém, uma coisa é fundamental: a escuta. Como ressaltou a palestrante, é necessário conhecer a realidade do povo antes de levarmos a Palavra.
Em um cenário marcado pela diversidade e também pelas dificuldades atuais, a escuta torna-se indispensável, levando-se em consideração que é por meio dela que aprendemos uns com os outros.
Além de auxiliar na resolução de conflitos, como o que aconteceu entre Pedro e Paulo, a escuta permite o crescimento em comunidade, evitando a divisão que deu origem a diversas igrejas ao longo da história.
Padre Maciel também agradeceu aos presentes, que participaram intensamente das atividades propostas
Haidi ressaltou, ainda, problemas observados na sociedade atual, como o individualismo, o consumismo, a idolatria, a sexualização da mulher e o uso excessivo do celular, que faz com que ninguém escute ninguém, gerando impaciência, principalmente entre crianças e jovens, público que precisa ter um olhar diferenciado para o anúncio da Boa Nova. Daí a importância de ouvi-los para que eles possam ser compreendidos e o espaço para se levar Cristo possa ser criado.
O grupo discutiu também como trabalhar tudo isso por meio da oração, vivendo e conhecendo o projeto de Jesus, que envolve a humildade, os trabalhos sociais e a Igreja em saída.
O grupo formou mini plenárias para a reflexão de temas específicos
A mensagem
“A Bíblia não é para enfeite. A Bíblia é para ser lida. É importante conhecermos nossa história para compreendermos nosso presente e pensarmos no nosso futuro, resgatando a nossa dignidade por meio da relação com as Sagradas Escrituras”, disse Haidi, para quem o conhecimento da história do país também é importante, já que trabalha a dimensão cidadã, tão bem explorada na Carta aos Efésios. ”Assim vamos mostrando o projeto de Cristo por meio de nossa vivência”, salientou.
Esse projeto também é descrito pela Carta, quando propõe uma cidadania formada por filhos e filhas de Deus. “Na comunidade de Jesus Cristo todos estão em pé de igualdade. Não cabe discriminação nem exclusão. Jesus não tinha medo, ele acolhia a todos”, ressaltou ela.
Junto com a cantora Maria Helena (@vozdehelena), Cecília Franco animou o público presente
E foi justamente por criticar a severidade das leis e a prática da religião como instrumento de poder e de exclusão, que Cristo desestabilizou a sociedade do seu tempo. Infelizmente, a exclusão ainda é observada nos dias de hoje, contrariando os planos de Deus para a construção da nossa santidade.
“Somos comunidades de santos quando temos Jesus Cristo como pedra angular. No meio da diversidade construímos vínculos de paz. Nós somos iguais diante de Deus, mas nós somos diferentes enquanto pessoas. Para construir coisas coletivas é imprescindível conviver com a diversidade”, ressaltou Haidi, explicando que o maior desafio encontra-se na aceitação do outro como ele é.
Na opinião da palestrante, esse aprendizado torna-se difícil por conta dos modismos do mundo.
"Para não se deixar levar por eles é indispensável desenvolver uma espiritualidade profunda, por meio de um diálogo constante consigo e com Deus, além de um trabalho de autoconhecimento constante. E é por meio desse diálogo contínuo que criamos um lugar de reflexão sobre o que queremos para nossa sociedade à luz do projeto de Jesus. Isso traz crescimento comunitário, coletivo e pessoal. No momento que conseguimos levar a sério a proposta de Jesus Cristo, a vida fica melhor pra todo mundo”, afirmou.
Em meio ao evento, Ana, que faz parte da comissão organizadora, expressou o seu contentamento com o que viu
Silvana Lima, com a colaboração de Larissa Cabral e Mirna Machado (PASCOM) e Ana Cecília Bastos (Pastoral do Batismo)
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